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Sábado recital de piano


Ana Margarida Silva P I A N O http://anamargaridasilva-piano.blogspot.pt/

L. V. Beethoven   Sonata numero 13 Op.27 n. 1 ‘Quasi una fantasia’
Andante - Allegro - Andante; Allegro molto e vivace;  Adagio con espressione; Allegro vivace
F. Mendelssohn   Variations sérieuses Op. 54
---- Intervalo----
M. Ravel Miroirs:
Oiseaux tristes; Une barque sur l'océan
S. Prokofiev Sarcasms Op.17
Tempestuoso; Allegro Rubato; Allegro precipitato; Smanioso; Precipitosissimo
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Música para Piano: Obras de Beethoven, Mendelssohn, Ravel e Prokofiev

A Sonata n.º 13 em Mi bemol maior é a primeira das duas sonatas de Ludwig van Beethoven (1770-1827) que compõem o Opus 27 (sendo a segunda a famosa sonata “ao luar”). Tal como a segunda sonata, recebe o título de quasi una fantasia pelas secções estarem bastante ligadas umas às outras, assemelhando-se a uma fantasia livre. A sonata, escrita entre 1800 e 1801, foi dedicada à Princesa Josephine von Liechtenstein. O primeiro andamento não é um andamento rápido em forma-sonata mas sim um Andante em forma de canção num ritmo lento. Este momento inicial é quebrado com um Allegro algo virtuoso, regressando ao Andante inicial como se o Allegro nunca tivesse acontecido. No segundo andamento (Andante molto e vivace) ambas as mãos tocam um padrão de três notas que se opõem uma à outra. Esta oposição contrasta com um trio com ritmo sincopado ao estilo de “caça”. O terceiro andamento (Adagio com espressione), gracioso e baseado em acordes espaçados, serve na prática de introdução ao Allegro vivace final, um rondo elaborado com bastantes passagens contrapontísticas. Atingindo o clímax, a música chega a uma paragem abrupta, reaparecendo o tema do Adagio no breve momento antes da coda (num Presto) encerrar de forma brilhante a sonata.
Felix Mendelssohn Bartholdy (1809-1847) escreveu três sets de variações para piano no ano de 1841 das quais somente as Variations Sérieuses Op. 54 foram publicadas durante a sua vida. Terminadas a 4 de Junho de 1841, estas variações foram escritas no âmbito de uma campanha de angariação de fundos para a edificação de uma estátua de bronze em memória de Ludwig van Beethoven em Bona. O tema, que serve de base às dezassete variações bastante virtuosas, de carácter solene é uma evocação à música barroca para teclado. As variações que se seguem, perdendo em duração, ganham em diversidade. A primeira faz-nos imaginar uma invenção para teclado de Johann S. Bach. A partir daqui a textura começa a adensar-se e, na terceira variação, Mendelssohn sumariza uma necessidade de tensão reminiscente de Beethoven. Em algumas variações posteriores pode-se sentir um poder Brahmsiano. Ao longo de toda a obra mantém-se o carácter anunciado no título – sério – sem quaisquer rastos do carácter élfico que marca frequentemente a obra de Mendelssohn.
A suite para piano Mirois foi escrita durante o ano de 1904 e 1905 tendo sido estreada pelo pianista Ricardo Viñes no ano seguinte. A obra, composta de cinco andamentos dedicados a vários membros do grupo impressionista francês “Les Apaches”, é (como o título aponta) um grupo de “reflecções” isoladas sobre vários olhares da realidade. Dedicada a Ricardo Viñes, em Oiseaux tristes, Maurice Ravel (1875-1937) tem como intenção a evocação do estado dos pássaros de uma floresta negra durante as horas mais quentes de Verão. Segundo as próprias palavras de Ravel “um ritmo sincopado proporciona um apoio estático para o chamamento dos pássaros”. Un barque sur l’océan, dedicada a Paul Sordes, baseia-se numa célula motívica altamente evocativa, que coloca um gesto de oito notas na mão direita contra arpejos apressados na mão esquerda. Como o título sugere, a peça sugere um pequeno barco navegando nas ondas do oceano, os arpejos e as melodias ondulantes sugerem a agitação das correntes.
As cinco peças que compõem Sarcasms Op. 17, escritas entre 1912 e 1914, são o produto do pensamento mais radical de Sergey Prokofiev (1891-1953) até esse tempo. Mais do que uma colecção de “choques sonoros”, nelas Prokofiev mostra uma vertente lírica muito rica, especialmente na primeira (Tempestuoso) e terceira (Allegro precipitato). A quinta (Precipitosissimo) é uma descrição não de um riso sarcástico, mas sim de uma cara em lágrimas. A primeira peça inicia tempestuosamente (como o título sugere), onde se pode reconhecer o tipo de escrita pianística tão característica do compositor; o segundo tema é extraordinariamente lírico. A segunda, Allegro rubato, inicia com um carácter contemplativo com um tema indiferente. A terceira contém música mais furiosa das cinco peças com um acumular de energia tão rápido e intenso que se espera uma explosão desse material musical. Contudo a secção central consegue conter, através de um lirismo, a ansiedade do material musical inicial. Smanioso possui um carácter marcadamente improvisatório, contudo o ambiente é bastante incerto pois a música deambula nervosamente através das secções. A última peça é uma das mais subtis da obra, ocupando um mundo sonoro de imagens escuras e enevoadas, de melancolia e ansiedade.